A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) aprovou greve e é mais uma categoria do funcionalismo público federal a se juntar aos servidores do Banco Central e da Receita Federal em paralisação por reajuste. Além da greve, os delegados de Polícia Federal aprovaram um pedido de renúncia do ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, que também é delegado.
A decisão pela paralisação dos delegados foi aprovada em assembleias na semana passada, após a categoria não aceitar o possível reajuste de 5% para todos os servidores federais. Com base na reserva de R$ 1,7 bilhão no Orçamento de 2023 e reestruturação de carreiras, a categoria esperava um reajuste maior.
A Associação Nacional dos Servidores Públicos Federais Agrários (Cnasi-AN), órgão que representa 90% dos servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), também mostrou descontentamento com as negociações do reajuste. “No Incra há uma concordância geral, embora não seja unanimidade, que o percentual de 5% é muito baixo e não compensa as perdas inflacionárias do ano passado”, diz Reginaldo Marcos Aguiar, diretor da Cnas-AN.
Os funcionários do Banco Central, que iniciaram greve no começo de abril, sinalizaram que a paralisação deve continuar. A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato Nacional Dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fábio Faiad.
Sem desculpa
Ao apontar dificuldades para atender a reivindicação de servidores federais por uma reposição salarial emergencial, o governo Bolsonaro sempre insiste na narrativa de que não há verba suficiente no orçamento da União. Esse discurso cai por terra quando se analisa de perto a situação. Ao examinar dados de um período de apenas um ano, a subseção do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef/Fenadsef) constata que enquanto as despesas de pessoal se mantêm constantes, no mesmo período o governo elevou gastos com juros que beneficiam rentistas em 33,49%. Desse modo está claro que as despesas com funcionalismo não podem ser consideradas vilãs das contas públicas, como o governo quer fazer a população acreditar.
Como aponta o Dieese, nos últimos anos, a despesa com pessoal e encargos sociais da União vem se mantendo constante em aproximadamente 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse é o retrato de pelo menos cinco anos de salários congelados da maioria dos servidores do Executivo, fortalecido pela Lei Complementar 173 que proibiu qualquer reajuste durante a pandemia. Outro elemento determinante, lembra o Dieese, foi a drástica diminuição de concursos públicos e, por consequência, a falta de reposição de servidores que se aposentaram nos últimos anos.
Todo esse cenário traz impactos e amplia o desmonte do Estado brasileiro, além do enfraquecimento das políticas públicas, direito constitucional de todo cidadão brasileiro. Com menor renda, taxas elevadas de desemprego e aumento da inflação, a classe trabalhadora segue sentindo na pele o resultado da política destrutiva priorizada pelo governo Bolsonaro.
Nos últimos anos, mais de 19 milhões de brasileiros ficaram na linha da miséria. De outro lado, a lista de bilionários brasileiros da Forbes ganhou 42 nomes em 2021. “De que lado o governo Bolsonaro está? Pois todos esses dados nos dão certeza para afirmar que este governo não está ao lado do povo”, constata o secretário-geral da Condsef/Fenadsef, Sérgio Ronaldo da Silva. (Com agências) (Fotos: Nando Neves)