Com seis meses de governo, alguns desafios exigem “mobilização sindical e popular” para garantir avanços socioeconômicos no governo Lula, analisa o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Entre esses desafios, o instituto, em seu Boletim de Conjuntura recentemente divulgado, cita possíveis “amarras’ que o Congresso tentará impor ao governo em relação a seus “projetos estruturantes”. E as próprias limitações de uma frente ampla formada durante as eleições.
No documento, o Dieese afirma que é necessário “efetivar um governo operacional para conseguir algumas melhoras na vida do povo, segurando o ímpeto destrutivo do capitalismo nessa fase contemporânea, notadamente em um país de desigualdades sociais indecentes”. E enumera algumas das mazelas. “Atualmente, no Brasil, são quase nove milhões de desempregados; 35 milhões de trabalhadores sem proteção social e sem perspectiva de ter aposentadoria na velhice; 10 milhões de pessoas morando em áreas de risco; 100 milhões sem coleta de esgoto; seis milhões sem moradia; faltam vagas em creche para cinco milhões de crianças; 1,2 milhão de crianças entre 4 e 5 anos de idade estão fora da escola”.
Distribuição de renda
Assim, lembra o instituto, grande parte desses problemas dependerá de retomada do crescimento econômico, associado a uma melhor distribuição da renda. “Já são seis anos seguidos de estagnação ou de baixo crescimento, resultado da persistente crise mundial e das políticas recessivas adotadas a partir de 2015, agravadas pela pandemia de Covid-19”, observa o Dieese. O resultado do PIB no primeiro trimestre melhorou as expectativas para 2023, mas as projeções apontam “patamar ainda insuficiente para reverter a deterioração do mercado de trabalho e ampliar significativamente a arrecadação tributária para o financiamento do investimento e das políticas públicas”.
A taxa de juros, ainda mantida em 13,75% ao ano pelo Banco Central – decisão “tecnicamente indefensável”, diz o Dieese –, é mais uma pedra no caminho governamental. “Possivelmente, parte do mandato do governo Lula será afetada, com redução do crescimento potencial devido a essa decisão do BC ‘independente’.”
Valorização do salário
O Dieese cita melhorias importantes, como a redução do ritmo da inflação, que tem impacto direto nos resultados das negociações salariais. De 3.204 acordos coletivos analisados neste ano, 70% registram reajustes superiores à variação do INPC-IBGE. A variação média está 0,79% acima do índice. Já o valor da cesta básica aumentou em 10 capitais no primeiro semestre, com queda em outras sete. Por isso, é “imprescindível” assegurar o restabelecimento da política de valorização do salário mínimo “para se alcançar o objetivo de redução da desigualdade social almejado pelo governo Lula”. (Com agências) (Foto: divulgação)